Assisti "Logan" no cinema e posso dizer que terceiro e último filme do Hugh Jackman como Wolverine é um murro emocional no estômago, e com garras.
O filme, uma obra prima do diretor James Mangold, teve um show de interpretação do Patrick Stewart e do Hugh Jackman, assim como da estreante Dafne Keen, como a jovem mutante X-23. Todo mundo esteve bem, os vilões particularmente detestáveis, assim como a onipresente e tensa trilha sonora, que descrevo aqui como um faroeste distópico ciborgue.
Pena que o preço para essa obra prima seja deixar o universo cinematográfico dos X-men em frangalhos, anulando o final feliz do filme anterior, "X-men: Dias de um futuro esquecido". A história em quadrinhos na qual foi baseada era já um "Futuro alternativo", um "O que aconteceria se", tão comum nos quadrinhos "Não está valendo de verdade, é só uma possibilidade", mas nada disso se aplica neste caso, o que o filme faz questão de frisar. Mas talvez apelar para essa história seja a única chance da FOX para encarar os filmes da Marvel da Marvel.
O primeiro filme dos "X-men" data de 2000, e foi o renascimento bem sucedido dos filmes de super-herói (que teve um ensaio em "Blade" um pouco antes). A Marvel vendeu os mutantes para a FOX, que fez bom uso deles. Chamou escritores consagrados como o Chris Claremont para darem suas bênçãos e a adaptação foi bem sucedida, abrindo caminho para a avalanche de filmes que veio depois, como o Homem Aranha da Sony. O diretor Bryan Singer, diretor do filme cult "Os suspeitos", mostrou que sabia lidar com um grande grupo de atores, e conseguiu apresentar os personagens de forma organizada em um filme sólido de ficção científica e ação.
Quando vi o filme dos X-men eu pensei "Parece um episódio de
Jornada nas Estrelas com algumas ceninhas de luta do filme
Mortal Kombat". A comparação veio principalmente pelo ator que faz o Charles Xavier, o Patrick Stewart, também fazer o papel do Capitão Jean Luc Picard no seriado de TV
Jornada nas Estrelas: A nova Geração. A diferença de interpretação é bem sutil, enquanto que o Capitão Picard é severo, ele é o compasso moral de toda a Federação. O professor Xavier já um pouco mais paternal, mas ainda assim sabe dar as suas broncas, como na cena em X-men 2 na qual ele dá uma bronca no Pyro: "na próxima vez que quiser se exibir....NÃO o faça".
Tivemos então seis filmes dos X-men, três filmes do Wolverine, e um do Deadpool. Todos interessantes, mesmo com os altos e baixos. O sucesso inesperado de DEADPOOL, que tem censura de 18 anos (Rated R) fez com que a FOX desse carta branca para o terceiro filme do Wolverine ser com censura 18 anos. E o filme faz bom uso desse recurso, com cenas sanguinolentas de tirar o fôlego.
Mas vamos ser completistas, pois somos NERDS! Essa não foi a primeira vez que vimos o Hugh Jackman cortando vilões com poças de sangue pra todo lado, censura 18 anos. A primeira vez que vimos isso foi no jogo de Playstation 3 "X-men Origins: WOLVERINE" a versão
Uncaged Edition . No jogo, vilões viram suco de tomate toda vez que o Wolverine usa seu ataque de tornado estilo demônio da Tazmania. Então, quem estiver com saudade do Logan, e não jogou esse jogo, você está perdendo toda a interpretação que o Hugh Jackman fez para essa obra prima dos games. Pare de chorar e vá jogar.
Voltando ao filme LOGAN, Quando a Laura, a X-23, usa suas garrinhas para picotar os "Carniceiros' (os capangas ciborgues do vilão Donald Pierce), temos várias risadas na plateia e vários "Awws" e vários "Wows". Mas que lástima, nenhum dos carniceiros tinha uma esteira de tanque no lugar de pernas. Ah, quanta injustiça!
Bom, infelizmente, para os vilões merecerem ser cortados por garras de adamantium, eles tem que ser particularmente hediondos, o que nos resulta em cenas cruéis demais para assistir. As maldades do laboratório dos vilões eu achei que estavam no meu limite. Nós vimos o Logan adulto sofrer experimentos no filme "X-men origens: Wolverine", mas agora as cobaias são crianças mutantes criadas em laboratório na fronteira do México. A única humanidade delas veio das gentis enfermeiras mexicanas. Como as crianças são propriedades do laboratório, não tem direitos e podem ser caçadas à vontade pelos vilões.
Talvez aí esteja um paralelo com a realidade, a qual os quadrinhos e filmes dos X-men são conhecidos por fazer, a vítima da vez são mexicanos vitimizados por novas políticas ásperas anti-imigração do Trump?
A Laura não fala nada até metade do filme, e quando fala é em espanhol e a Terra prometida dos mutantes mexicanos não é os Estados Unidos, mas sim o Canadá!
Bom, voltando aos quadrinhos, muito se celebrou sobre o Stan Lee, criando o universo Marvel nos anos 60, e muito se celebrou do Frank Miller com o seu renascimento do Batman em 1987, mas acho que pouco está se celebrando sobre o Mark Millar, um autor moderno que deu o pontapé para a modernização dos Vingadores, já que suas "atualizações" nos personagens da Marvel (The Ultimates) os deixaram prontos para adaptação para os filmes. O filme "Vingadores" é muito baseado no trabalho do Mark Millar "Os Supremos"(The Ultimates), o filme "Capitão América: Guerra Civil" é baseada em "Guerra Civil", e "LOGAN" é inspirada na sua minissérie "Velho Logan". Cadê as participações especiais dele?
Agora, voltando ao Professor Xavier, responsável por grande parte dos rios de lágrimas do filme. O Xavier envelhecido, falando palavrões e tendo problemas em conter seu grande poder, não rouba a cena, e sim a enriquece, trazendo muito da bondade e humanidade necessária a um filme violento como esse. A atuação dele é quase uma maldade por nos fazer chorar.
Ahá, mas eu conheço os truques dele, pois ele já fez papel de velho gagá no último episódio de "Jornada nas Estrelas: A Nova Geração" de 1994 chamado de "Todas as coisas boas terminam". No episódio o Capitão Picard está velho (maquiado de mais velho, com uma barba postiça) e está tentando convencer seus antigos tripulantes de uma ameaça a qual somente ele está ciente. Ele está sofrendo de uma doença degenerativa mental e também balbucia asneiras enquanto luta pela sua sanidade.
Logo em seguida, em 1994, no filme "Jornada nas Estrelas: Gerações", o Capitão Picard precisa enterrar o seu antecessor, o Capitão Kirk. O Capitão Kirk foi interpretado durante 30 anos pelo ator William Shatner e esse filme foi sua despedida final ao personagem e ele morre salvando a próxima geração de heróis.
Como sempre, Jornada nas Estrelas e X-men sempre andaram de mãos dadas. :)